"Não é por raparmos o nosso prato que os pobrezinhos vão deixar de ter fome."
O discurso do coitadinho é uma coisa que me tira do sério. Principalmente quando o coitadinho elege a sua desgraça como sendo a mais sublime, e torna-se ofensivo para quem, segundo ele, não será detentor de uma desgraça tão grande e que, portanto, não tem o direito de se queixar. Veja-se numa sala de espera de um hospital, ou num simples encontro de velhotes. É uma verdadeira disputa sobre quem tem mais doenças ou a doença mais grave. E há mesmo um prazer masoquista em vencer esta competição! No caso da classe mais jovem, a disputa será em torno do emprego, do ordenado, das horas de trabalho, dos horários...
Há sempre coitadinhos mais coitadinhos que nós. Mas não é por isso que deixamos de ter o direito de querer para nós melhores condições, sejam elas relativas ao que for! E quem diz "dá graças a deus por teres o que tens", bem pode ir dar uma volta, pois a tradução dessa frase é "deves ficar feliz pela desgraça alheia"! Aquilo que nós próprios sentimos, sofremos, desejamos, só a nós nos diz respeito, e só nós temos a noção da sua dimensão. O impacto que algo tem numa pessoa pode não ser o mesmo que tem noutra. O que me deixa triste ou feliz pode ser indiferente para outra pessoa qualquer. Não podemos distribuir o sofrimento por níveis de gravidade, se esse sofrimento não for o nosso. Não somos nós que estamos errados por querermos mais. Os outros têm ainda menos? Infelizmente não é o facto de nos resignarmos que vai dar-lhes mais daquilo que lhes falta.
terça-feira, 8 de março de 2011
Pensamento do dia XVII
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